Por Natan Pinheiro
Advogado
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- Desde os primórdios da sociedade, o homem busca estabelecer uma sistemática de ensino obedecendo métodos próprios, no intuito de se contribuir com o avanço social e a consolidação das bases educacionais existentes. Entretanto, com o crescimento exponencial das nações e a mercantilização do ensino, deixou-se de lado a “disciplina” do aprimoramento individual, por não ser adequada aos anseios da economia, para valorizar um ensino voltado ao tecnicismo e à vida prática, formando-se verdadeiros autômatas sem capacidade de reflexão crítica. O desafio na educação superior contemporânea resume-se em concatenar os ideais próprios de uma instituição de ensino às necessidades da nação em que se encontra inserida, respeitando o caráter público da escola, que visa a consecução do bem estar comum.
- Deste modo, observa-se uma vertente predominante voltada à pragmatização do ensino, resultando em uma Universidade não produtora de agentes pensantes, incapazes de inovar, produzir e manusear o conhecimento, por adotar uma postura cerceadora da educação continuada, valorizadora de insights acadêmicos. Ao contrário, valoriza-se um imediatismo efêmero, o qual não serve de supedâneo para as gerações futuras. Daí, já se pode abstrair algumas das dificuldades vivenciadas pelo docente no próprio meio acadêmico, mas que, através de uma boa preparação, podem ser superadas.
- Muitas podem ser as dificuldades encontradas pelo professor em sua prática, não se resumindo estas, apenas, à insubordinação dos alunos, ou, mesmo, à deficiência da infraestrutura existente. Em verdade, a intempérie já se inicia na própria teoria educacional adotada, se comportamental, se cognitiva, ou se construtivista; no conteúdo selecionado a ser ministrado; a preocupação com as características próprias de cada aluno; a contextualização do conteúdo à necessidade vigente; etc.
- Entretanto, todas essas dificuldades são supríveis com a adoção de uma nova postura, na qual o professor se distancie daquele sujeito que por ser tão absoluto, por diversas vezes se demonstra obsoleto. Este sujeito, é responsável pelo tolhimento da capacidade criativa do acadêmico e esta situação é responsável pela naufrágio do sistema de ensino superior, pois retira da universidade sua principal característica: a de ser um berço da profusão intelectual e dos processos reflexivos sobre os conhecimentos já consolidados, no intuito de os aprimorar e, quiçá, modificá-los.
- Cada indivíduo possui características natas, assim como possui múltiplas inteligências, segundo estudo desenvolvido por Gardner, e essa diversidade de características deve ser respeitada, ao passo que também deve haver uma preocupação, por parte dos professores, em trabalhar as diversas inteligências integralmente no aluno.
- O referido estudo, aborda o processo de cognição humana não sendo como de por uma única forma, mas através de diversas manifestações da inteligência, as quais as denomina: Inteligência Interpessoal, Inteligência Lógico-Matemática, Inteligência Linguística, Inteligência Intrapessoal, Inteligência Corpo-Cinestésica, Inteligência Visio-Espacial, Inteligência Naturalista e Inteligência Musical. Frise-se que é comum a valorização da Inteligência lógico-matemática nos estabelecimentos de ensino, como se a mesma fosse a única forma de expressão intelectual, o que é uma pena, pois impossibilita as outras formas de manifestação intelectual.
- Assim, por meio do estudo desenvolvido por Gardner, o professor deve focar-se em seu aluno como um todo complexo, sendo defeso a restrição de qualquer de suas habilidades, sempre convidando o meio acadêmico a participar do processo cognitivo como sujeito ativo, dando vazão às suas potencialidades.
- A comunicação é extremamente relevante para o desenvolvimento intelectual do aluno, pois é através dela que o professor exprime o conteúdo a ser ministrado na sala de aula valorizando as múltiplas capacidades que os acadêmicos dispõem. Destarte, o modo como se opera o processo de comunicação professor-aluno pode ter diversas consequências, positivas ou negativas, quanto à aprendizagem e a formação do acadêmico.
- Em consonância com as variadas formas de manifestação intelectual, também, deve-se utilizar das mais variadas formas de comunicação: linguística, corporal, musical, sensorial, etc., a fim de que haja uma perfeita assimilação do conteúdo a ser trabalhado. Assim, o professor deve se preocupar com a clareza e objetividade em sua comunicação, permitindo, ao aluno, uma maior integração ao ambiente em sala de aula e uma consequente construção de seu conhecimento, não se olvidando suas características individuais.
- Durante o processo de ensino-aprendizagem há inúmeros fatores a serem observados, dentre eles a própria interação entre professor-aluno, auxiliadora na construção e reconstrução do conhecimento por meio da participação do aluno, que externaliza inquietações, dúvidas, sugestões, etc., pondo-se em uma situação de não inferioridade perante o professor. O docente deve levar em consideração as diversas teorias acerca do processo de aprendizagem.
- Nessa esteira, Bloom desenvolveu um estudo acerca das habilidades cognitivas, escalonando os níveis de habilidade de simples a mais complexo, elencando o conhecimento como a forma mais simples de habilidade, porquanto a avaliação demonstra-se a mais complexa.
- O referido estudo amplia a percepção sobre os níveis cognitivos, exemplificando, através de uma escala, o grau de apreensão do conteúdo pelo aluno. Demonstra-se bastante interessante, pois pormenoriza ao docente quando exigir e como exigir de um aluno, clarificando ser o aprendizado um processo gradual e construtivo, nos moldes dos ensinamentos de Piaget.
- Do mesmo modo, não se pode ignorar os estudos de Bloom acerca das habilidades afetivas dos discentes, que se deram no mesmo sentido, elaborando uma escala elencando o grau mais simples de interação ao mais complexo, entre a receptividade (mais simples) ao complexo de valores (mais complexo), que permite uma maior visualização, pelo professor, da receptação e desenvolvimento valorativo dos elementos abordados em sala de aula realizados pelo aluno.
- O trabalho do docente superior está condicionado a garantir ao aluno uma maior integração do ambiente acadêmico a sua realidade pessoal, possibilitando, assim, valer-se de conteúdos explorados em sala de aula para valorar o universo externo e contribuir positivamente para a consecução dos anseios da sociedade em que se encontra inserido.
- Observa-se que o docente superior possui inúmeros desafios a serem superados em prol de uma educação voltada para a formação de alunos mais críticos, comunicativos e capazes não só de apreenderem informações, mas de as trabalhar com plena segurança, valorando-as, modificando-as e criando novos conceitos a partir dos já preexistentes.
- Assim, o professor contemporâneo não pode mais se travestir na figura de um ser onipotente, absoluto e hierarquicamente superior ao aluno, mas se por lado a lado ao mesmo, desenvolvendo um processo de construção e reconstrução do conhecimento, que possibilite, a este, produzir seus próprios pensamentos através do fomento à pesquisa e à externalização de ideias desenvolvidas em ambiente acadêmico. Neste sentido, alcançar-se-á um modelo de ensino voltado à integração aluno-sociedade, permitindo-lhes a constante evolução do conhecimento, respeitando as características natas de cada partícipe, contribuindo-se, destarte, contrariamente ao modelo limitante hoje vigente, para a consecução de um indivíduo com suas potencialidades ampliadas por uma valorização de suas manifestações intelectuais.
REFERÊNCIAS
BUARQUE, Cristovam. A universidade prisioneira. Advir, Rio de Janeiro, n. 6, jul. 1995, p. 4-25. Edição especial.
DEMO, Pedro. Introdução. In: ______. Conhecer e aprender: sabedoria dos limites e desafios. Porto Alegre: ArtMed, 2000. p. 9-12.
GARDNER, Howard. Entrevista Gardner. Revista Pátio. Disponível em: . Acesso em: 02 mar. 2006.
MORHY, Lauro. Universidade na encruzilhada. Universidade de Brasília, 12 mar. 2003. Disponível em: xto=1197>. Acesso em 19 ago. 2009.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A sagrada missão pública. Folha de São Paulo. São Paulo, 04 jun. 2000, Caderno Mais!, p. 10-1.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Mal-formado ou mal-informado. In:_____. Os (des)caminhos da escola: traumatismos educacionais. 4ª ed. Cortez: São Paulo, 1992. p.23-27.